quinta-feira, 16 de junho de 2011

Revisão de Conceito

"Dê asas a sua imaginação." Mas equipe-a com um paraquedas.

O mundo adora propagar a ideia de que podemos fazer o que quisermos, como se isso não impusesse consequências.
Cabe a nós — pais, educadores, formadores, etc... —, portanto, garantir a lembrança de que "para toda ação corresponde uma reação", e de que devemos nos preparar para estas reações.

Se Ícaro tivesse inventado um paraquedas — ou solicitado a invenção a Dédalo —, talvez o conheceríamos por outros feitos. Assim, o derretimento da cera, quiçá, sequer chegaria a nós.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Instantes finais da última batalha

Como são os últimos minutos de vida?

Quanto aos meus, ainda não posso dizer — e talvez nunca chegue a fazê-lo —, mas sei como é estar amordaçado à cadeira de espectador, depois de lutar e dar muito suor para adiar a morte de alguém querido e devolver-lhe sua saúde.

Se você não possui nenhum animal, esta leitura não é para você. Se você possui, mas não lhe cuida, também. Se você cuida dele mas não o ama, a mesma recomendação.

Acompanhar os últimos minutos de um grande guerreiro é doloroso. Após encontrá-lo deitado, sem forças e agonizando e pôr-se a seu lado para dar apoio enquanto o fim se aproxima, muitas memórias, sensações e pensamentos vêm à mente : a infância brincalhona, as artes, as coisas derrubadas e quebradas, as caçadas, a vida saudável, ...; as recaídas da saúde, a descoberta da leucemia, a esperança de tratamento, o tratamento, as várias tentativas, os remédios, as melhoras, as brincadeiras, os banhos de sol sob as árvores, as corridas pelo gramado, as bebidas de água da torneira da pia, a soneca sobre a guarda do sofá, a noite descansada aos meus pés — onde era mais confortável —, os chamados para entrar em casa, os pedidos por comida, por mais comida, ... ; as novas recaídas, a perda do apetite, a anemia, mais batalhas, a internação, a medicação, a transfusão, a ansiedade, as visitas diárias — em turnos às vezes —, a sutil melhora, a melhora e a "fome de leão"; a volta à casa, a melhora, os banhos de sol abaixo das árvores, o descanso sob as sombras das folhas — lágrima —. A perda de apetite, a perda da força, do equilíbrio, o avanço da anemia, o banho de sol, a internação, o soro, a comida à força, o exame, o princípio da falência renal, a fraqueza.

Realmente um filme passa pela cabeça nos últimos minutos de vida. A iminência do fim em pouco tempo faz parecer que tanto tempo não foi suficiente. E, enquanto acompanha a aproximação do final, os dedos percorrem a pelagem sedosa, as orelhas macias — lágrima —, o pescoço agora frouxo, os olhos amarelos e o focinho "manchado de chocolate" — lágrimas.

Lágrimas. A prova da grandeza do guerreiro Bola é que, por mais que sofresse e por mais que talvez doesse, ele juntou todas as suas forças para, nos instantes finais de sua batalha, esperar a visita de seu parceiro e companheiro para que pudesse lhe dar adeus, acomodar sua pequena cabeça nas mãos que, durante muito tempo, cuidaram-lhe, e então, com a respiração cada vez mais espaçada, partir — lágrimas! — e descansar sob a sombra das árvores de que tanto gostava.



terça-feira, 10 de maio de 2011

A batalha final...

Viver é vencer diariamente batalhas de uma guerra que à morte pertence.

Não sei se algum outro grande filósofo, autor, comentarista, artista, ... já exprimiu essa frase antes mim. Em caso positivo, desculpas, pois ela foi resultado reflexão própria, sem cópias. Entretanto, por talvez ser uma conclusão tão banal, talvez outros já a tenham expressado. Em caso de necessidade, eu corrijo e cedo o devido crédito. Ao comentário:

Há um bom tempo essa reflexão ocupa pequena parte do meu tempo. Contudo, até então não conseguia finalizar ou concluir essa metáfora, por mais que me esforçasse.

Somente agora, diante da iminência, proximidade e irreversibilidade do único evento certamente inevitável na vida — a morte —,  as palavras se organizaram. E como a vida parece insignificante sob essa ótica.

Pensar que, no final das contas, seremos derrotados pela morte na guerra por nossas vidas significa que tomar vacinas, cuidar da saúde, fazer transplantes, transfusões, tratamentos, esportes, controle alimentar, RCP, ... só vai adiar a última batalha. Ou seja, a vida é um confronto em que a última batalha não será vencida por nós.

Ainda que possa parecer inútil lutar, a questão não é deixar de batalhar ou de sequer entrar na guerra; nem mesmo se há algum motivo para batalharmos e lutarmos — sabemos que há, para cada pessoa, alguma razão.

O grande dilema é este: como saber que a campanha realizada foi magnífica, digna, esplêndida e que, por fim, é a hora de ingressar na última batalha? Como saber se ainda vale a pena entrar em batalhas nas quais apenas haverá baixas e um doloroso e sofrido retardo do confronto final? Vencer duas ou três batalhas antes da última vale a pena, ainda que a duras penas?

Essa é a grande dúvida, pois, se decidir essa hesitação da consciência já seria algo difícil individualmente — eu mesmo não sei realmente se preferiria ir direto à última batalha — , o que fazer caso você passasse a ser o estrategista da guerra de outrem e, portanto, a escolha pelo fim coubesse a você?

Quanto a mim, reflito, calculo e peso, mas não sei...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Besteira minha

— Ei, olha aquela nuvem!
— Uau... Que diferente!
— É. Parece um tamanduá com pele de morcego.
— Hein!!!?
— Brincadeira... Ha ha ha ha
— Ha ha ha... Só você mesmo...

Não era brincadeira. Era verdade. Não que parecia um tamanduá com pele de morcego, mas que ele pensou parecer...

É frequente pensarmos e criarmos coisas absurdas em nossas cabeças. Algumas, por serem tão estúpidas ao nosso critério, permanecem adormecidas até o esquecimento levá-las. Outras, por não termos certeza da inconveniência do seu conteúdo, são largadas nas rodas de amigos como experiência.

Nessas situações, há duas saídas: caso os rostos esbocem incompreensão extrema, você dá uma gargalhada e diz que era brincadeira. E todos riem junto. Alguns, por acharem o comentário tão "fora da casinha", ainda arrematam "Só você mesmo..."; outra saída — menos frequente, mas talvez aquela por que mais desejamos — é deixar todos calados e reflexivos até que alguém comente "É... faz sentido..."

A questão é que, independentemente do crivo de nosso círculo alheio, não acreditamos realmente naquilo que criamos — ou sequer na nossa capacidade de fazê-lo —. Por que? Talvez por não concebermos uma ideia completamente, em plena perfeição; por não sermos autoridades naquele assunto; por não possuirmos conhecimento da matéria; ou, acima de tudo, por não acreditarmos sermos capazes de criar algo de valor e qualidade.

Agora vem a ironia: e quando vemos nossas ideias na televisão, no cinema, em uma loja de sapatos, de roupas, em uma concessionária de veículos, nos jornais, nas revistas, nas fachadas de empresas, nas propagandas governamentais, nas universidades estrangeiras, enfim, em qualquer lugar e sem indícios de nossa autoria?

Você olha ali a sua ideia, do jeito que você a concebeu: com todas as formas, contornos, maneiras, detalhes, pegadas, sacadas, morais, mensagens, fundamentos, formas... e você pensa instintivamente "Essa ideia é minha..." ou "Eu já tive essa ideia". E o que vem na sequência (?): palavrões, xingamentos, maldições, resmungos...  — não contra quem usou a "sua" ideia, mas contra você, que não teve a coragem de deixar de lado a vergonha por suas ideias.

Isso acontece com frequência comigo, sobretudo nas áreas em que mais atuo. O que dizer sobre o assunto? Uma coisa: Bem feito! Quem mandou ficar com vergonha na zona de conforto? Se tivesse "metido as caras", seria, realmente, Sua ideia...

Todas as pessoas devem "botar pra fora" suas ideias, sejam elas cômicas, sérias, dramáticas ou revolucionárias. Assim, ainda que sejamos expostos ao ridículo, não seremos culpados por omissão perante nós mesmos. Por isso, ria com algumas das minhas ideias absurdas:


— Tinta de cabelo? Nada... tratamento no DNA. Seu cabelo cresce naturalmente na cor desejada. O mesmo para o tipo de cabelo — é o fim da escova e chapinha; no mesmo conceito também pode tratar sua pele, rugas...
— A história de um garoto brasileiro cujo pai sumiu em uma missão espacial brasileira em Marte. Com ajuda de extraterrestres de uma organização intergalática, começa uma viagem para encontrá-lo. Naves espaciais? Nada... ele usa a viagem astral e começa a desvendar mistérios da cisão entre ciência e religião (essa eu já estou escrevendo desde meus dezesseis anos).
— Nanotecnologia: pra que carregar o celular pra tudo quanto é canto? Injeta o aparelho na cabeça: você escuta direto no cérebro, sem precisar dos ouvidos. Como discar? Você pensa!
— Ah, já que é nanotecnologia, vídeo conferência cerebral: você já enxerga a pessoa com imagens formadas nas regiões cerebrais responsáveis pela visão...
— Nano 3: com o equipamento na sua cabeça, a realidade aumentada fica mais "aumentada" ainda: você não precisa do GPS pra dirigir. As informações são passadas para o seu cérebro diretamente e você enxerga o caminho que tem de fazer. Se estiver conectado a alguma rede social, você vê também onde é a casa de seus amigos e se eles estão em casa. Você é fã de algum artista? Fique sabendo quando cruzou pro ele (a), saiba a roupa que estava usando e em que loja foi comprada...

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O tamanho de algumas pessoas...

"Ninguém é realmente digno de inveja, e tantos são dignos de lástima!" Arthur Schopenhauer

É impressionante o efeito produzido em nossa cabeça quando nos deparamos com esse tipo de frase, compostas com profunda essência: momentos de nossas vidas, pessoas e fatos passam rapidamente. Ela estimula a pensarmos sobre muitos temas.

A partir de uma reflexão não muito profunda, é possível concluir que ninguém, realmente, é digno de inveja. Um dos motivos disso é o fato de nos esquecermos de que querer "ter" algo que uma pessoa tem ou "ser" como determinado indivíduo implica, necessariamente, o conjunto de elementos que compõem tal pessoa, sejam positivos ou negativos. Por exemplo, querer ser um determinado empresário de grande sucesso talvez signifique ser corrupto, desonesto, assassino...; querer ter o sucesso que determinada pessoa possui talvez signifique passar por cima de nossas bases morais e viver sob pressão e chantagens o resto da vida...

O que impressiona é que a segunda parte da  frase do filósofo aplica-se a muitos exemplos: quanto não conhecem uma família aparentemente sólida, mas que o marido trai sua esposa?; ou que o marido é um bêbado que violenta sua família?; ou que a esposa rouba dinheiro do marido ou possui filho de outro pai, fazendo o seu marido acreditar que é seu?; ou que os filhos cometem crimes ou se drogam? Na vida, vemos muitas pessoas que aparentemente mereceriam inveja, que na verdade merecem lástima, pena, condoimento...

Se as pessoas partissem desse pensamento de Schopenhauer, menos "rasteiras" talvez seriam dadas, menos "trapaças" aconteceriam pois, em vez de buscar o fracasso alheio, as pessoas passariam a direcionar suas forças para a construção de seus sonhos. Fariam isso sem manchá-los com armadilhas, trapaças, corrupção, as conhecidas "politicagens", ... e, poderiam ser, quem sabe, motivos de admiração e respeito

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O tempo...

Curioso como o tempo, à medida que passa, transfere um sentimento de reinício em nossas vidas, mesmo quando fica impresso em nossas memórias sentimentos de frustrações.

Nossa vida transcorre como um jogo virtual em que, de tanto planejarmos, projetarmos e tomarmos decisões, nos esquecemos dos imprevistos. E é aí que está a mágica do jogo: quanto mais o tempo passa, mais surpresas aparecem. E, junto com as surpresas, vêm, algumas vezes, as frustrações, as decepções e as desilusões.

Contudo, parece que o tempo e a vida apresentam e inserem as surpresas desagradáveis como uma maneira de preparar o terreno para depois plantar uma surpresa enviada no tempo certo — não antes, nem depois—. É como lançar uma semente frutífera de bela árvore a um punhado de terra exatamente no momento em que, por fim, estava revirado, bagunçado, perfurado, molhado e isolado, mas preparado — ainda que não o soubesse — para nutri-la e fazê-la crescer.

No final das contas, as frustrações, as decepções e as desilusões não agridem nossa a terra — embora isso doa muito às vezes —, mas a adubam para o plantio. E, assim que chega a semente e estamos prontos, basta curtir o crescimento da árvore e voltar a fazer novos planos, projetos e tomadas de decisão em busca dos frutos.


O tempo perfura e revira nossa vida para plantar árvores belas e frutíferas.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A vida não é um conto de fadas. É uma história de terror que, como um psicopata, circunda nossa realidade em busca de fraquezas para trucidá-las... Hoje não Freddy!