sexta-feira, 6 de maio de 2011

Besteira minha

— Ei, olha aquela nuvem!
— Uau... Que diferente!
— É. Parece um tamanduá com pele de morcego.
— Hein!!!?
— Brincadeira... Ha ha ha ha
— Ha ha ha... Só você mesmo...

Não era brincadeira. Era verdade. Não que parecia um tamanduá com pele de morcego, mas que ele pensou parecer...

É frequente pensarmos e criarmos coisas absurdas em nossas cabeças. Algumas, por serem tão estúpidas ao nosso critério, permanecem adormecidas até o esquecimento levá-las. Outras, por não termos certeza da inconveniência do seu conteúdo, são largadas nas rodas de amigos como experiência.

Nessas situações, há duas saídas: caso os rostos esbocem incompreensão extrema, você dá uma gargalhada e diz que era brincadeira. E todos riem junto. Alguns, por acharem o comentário tão "fora da casinha", ainda arrematam "Só você mesmo..."; outra saída — menos frequente, mas talvez aquela por que mais desejamos — é deixar todos calados e reflexivos até que alguém comente "É... faz sentido..."

A questão é que, independentemente do crivo de nosso círculo alheio, não acreditamos realmente naquilo que criamos — ou sequer na nossa capacidade de fazê-lo —. Por que? Talvez por não concebermos uma ideia completamente, em plena perfeição; por não sermos autoridades naquele assunto; por não possuirmos conhecimento da matéria; ou, acima de tudo, por não acreditarmos sermos capazes de criar algo de valor e qualidade.

Agora vem a ironia: e quando vemos nossas ideias na televisão, no cinema, em uma loja de sapatos, de roupas, em uma concessionária de veículos, nos jornais, nas revistas, nas fachadas de empresas, nas propagandas governamentais, nas universidades estrangeiras, enfim, em qualquer lugar e sem indícios de nossa autoria?

Você olha ali a sua ideia, do jeito que você a concebeu: com todas as formas, contornos, maneiras, detalhes, pegadas, sacadas, morais, mensagens, fundamentos, formas... e você pensa instintivamente "Essa ideia é minha..." ou "Eu já tive essa ideia". E o que vem na sequência (?): palavrões, xingamentos, maldições, resmungos...  — não contra quem usou a "sua" ideia, mas contra você, que não teve a coragem de deixar de lado a vergonha por suas ideias.

Isso acontece com frequência comigo, sobretudo nas áreas em que mais atuo. O que dizer sobre o assunto? Uma coisa: Bem feito! Quem mandou ficar com vergonha na zona de conforto? Se tivesse "metido as caras", seria, realmente, Sua ideia...

Todas as pessoas devem "botar pra fora" suas ideias, sejam elas cômicas, sérias, dramáticas ou revolucionárias. Assim, ainda que sejamos expostos ao ridículo, não seremos culpados por omissão perante nós mesmos. Por isso, ria com algumas das minhas ideias absurdas:


— Tinta de cabelo? Nada... tratamento no DNA. Seu cabelo cresce naturalmente na cor desejada. O mesmo para o tipo de cabelo — é o fim da escova e chapinha; no mesmo conceito também pode tratar sua pele, rugas...
— A história de um garoto brasileiro cujo pai sumiu em uma missão espacial brasileira em Marte. Com ajuda de extraterrestres de uma organização intergalática, começa uma viagem para encontrá-lo. Naves espaciais? Nada... ele usa a viagem astral e começa a desvendar mistérios da cisão entre ciência e religião (essa eu já estou escrevendo desde meus dezesseis anos).
— Nanotecnologia: pra que carregar o celular pra tudo quanto é canto? Injeta o aparelho na cabeça: você escuta direto no cérebro, sem precisar dos ouvidos. Como discar? Você pensa!
— Ah, já que é nanotecnologia, vídeo conferência cerebral: você já enxerga a pessoa com imagens formadas nas regiões cerebrais responsáveis pela visão...
— Nano 3: com o equipamento na sua cabeça, a realidade aumentada fica mais "aumentada" ainda: você não precisa do GPS pra dirigir. As informações são passadas para o seu cérebro diretamente e você enxerga o caminho que tem de fazer. Se estiver conectado a alguma rede social, você vê também onde é a casa de seus amigos e se eles estão em casa. Você é fã de algum artista? Fique sabendo quando cruzou pro ele (a), saiba a roupa que estava usando e em que loja foi comprada...

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