quinta-feira, 12 de maio de 2011

Instantes finais da última batalha

Como são os últimos minutos de vida?

Quanto aos meus, ainda não posso dizer — e talvez nunca chegue a fazê-lo —, mas sei como é estar amordaçado à cadeira de espectador, depois de lutar e dar muito suor para adiar a morte de alguém querido e devolver-lhe sua saúde.

Se você não possui nenhum animal, esta leitura não é para você. Se você possui, mas não lhe cuida, também. Se você cuida dele mas não o ama, a mesma recomendação.

Acompanhar os últimos minutos de um grande guerreiro é doloroso. Após encontrá-lo deitado, sem forças e agonizando e pôr-se a seu lado para dar apoio enquanto o fim se aproxima, muitas memórias, sensações e pensamentos vêm à mente : a infância brincalhona, as artes, as coisas derrubadas e quebradas, as caçadas, a vida saudável, ...; as recaídas da saúde, a descoberta da leucemia, a esperança de tratamento, o tratamento, as várias tentativas, os remédios, as melhoras, as brincadeiras, os banhos de sol sob as árvores, as corridas pelo gramado, as bebidas de água da torneira da pia, a soneca sobre a guarda do sofá, a noite descansada aos meus pés — onde era mais confortável —, os chamados para entrar em casa, os pedidos por comida, por mais comida, ... ; as novas recaídas, a perda do apetite, a anemia, mais batalhas, a internação, a medicação, a transfusão, a ansiedade, as visitas diárias — em turnos às vezes —, a sutil melhora, a melhora e a "fome de leão"; a volta à casa, a melhora, os banhos de sol abaixo das árvores, o descanso sob as sombras das folhas — lágrima —. A perda de apetite, a perda da força, do equilíbrio, o avanço da anemia, o banho de sol, a internação, o soro, a comida à força, o exame, o princípio da falência renal, a fraqueza.

Realmente um filme passa pela cabeça nos últimos minutos de vida. A iminência do fim em pouco tempo faz parecer que tanto tempo não foi suficiente. E, enquanto acompanha a aproximação do final, os dedos percorrem a pelagem sedosa, as orelhas macias — lágrima —, o pescoço agora frouxo, os olhos amarelos e o focinho "manchado de chocolate" — lágrimas.

Lágrimas. A prova da grandeza do guerreiro Bola é que, por mais que sofresse e por mais que talvez doesse, ele juntou todas as suas forças para, nos instantes finais de sua batalha, esperar a visita de seu parceiro e companheiro para que pudesse lhe dar adeus, acomodar sua pequena cabeça nas mãos que, durante muito tempo, cuidaram-lhe, e então, com a respiração cada vez mais espaçada, partir — lágrimas! — e descansar sob a sombra das árvores de que tanto gostava.



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